São Paulo – Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos estiveram
na noite de ontem (30) com o presidente da estatal, Guilherme Campos, para
discutir o que os representantes dos trabalhadores chamam de processo de desmonte
da ECT. Segundo eles, esse processo é sistemático, com fechamento de agências e
redução de benefícios para os trabalhadores. Campos alega déficit constante nas
contas e, para resolver, propõe alterar o plano de saúde dos funcionários.
“A reunião era para discutir o
convênio médico, mas virou mais uma repetição da conversa de sempre. O
presidente da ECT teceu sua ladainha sobre o déficit financeiro, que sempre
fala, mas nunca prova”, afirma o Sindicato dos Trabalhadores da ECT e Similares
de São Paulo (Sintect-SP). A ausência da
comprovação do endividamento é uma das queixas dos trabalhadores. De acordo com
a estatal, os Correios operam com caixa negativo em R$ 1 bilhão, mas o conteúdo
das contas segue com confidencialidades, como afirmam os sindicatos da
categoria.
O diretor de Relações
Internacionais da Federação Nacional dos Trabalhadores em ECT e Similares (Fentect), Eduardo Marinho,
diz que “faltam subsídios necessários para que entendamos de fato os
números da empresa. Muitos dados são fechados. Pedimos alguns balanços
financeiros e eles falam que são confidenciais. Para nós, é difícil. O que
sabemos é que a empresa vem aumentando a arrecadação. Os Correios bateram
recorde de entradas de encomendas neste fim de ano”, afirma.
Mesmo com a operação da empresa
com o caixa negativo, em 2017, os Correios fecharam seu balanço com um
crescimento físico e financeiro de 13%. O ministro da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, afirmou à Agência Brasil que
o resultado positivo é fruto de um programa de austeridade implementado pela
gestão, e que para alcançar o equilíbrio nas contas será necessário alterar o
plano de saúde dos funcionários, retirando familiares dos trabalhadores do
benefício. “Impomos uma rigorosa recuperação e sua administração financeira foi
melhorada”, disse.
Chantagem
Os trabalhadores dos Correios
possuem uma média salarial das mais baixas do funcionalismo público. Cerca de
80% de seu pessoal recebe salários próximos, ou inferiores, aos R$ 2 mil. Por
isso, os sindicatos que representam a categoria afirmam que retirar os familiares dos
trabalhadores do plano de saúde será um grande golpe contra a
qualidade de vida dessas pessoas.
Frente à reivindicação, o presidente Campos manteve sua postura
severa sobre a necessidade do corte e subiu o tom. “Dessa vez, Campos foi mais
longe. Fez terrorismo e chantagem ao afirmar que se não melhorar o caixa da
empresa, entre os meses de abril e agosto poderá faltar dinheiro para o
pagamento de impostos, fornecedores e salários”, afirma o Sintect-SP.
Marinho também expôs o ponto como central da reunião. “O
presidente passou a visão dele sobre o fluxo de caixa com a perspectiva de que
de maio a agosto a empresa não terá como honrar os compromissos com os salários
dos trabalhadores sem ser desafogada do prejuízo financeiro”, disse.
Sanha privatista e reforma trabalhista
Outra queixa dos trabalhadores é
a extinção do cargo de Operador de Triagem e Transbordo (OTT), anunciado pela
empresa na última quinta-feira (25). A Fentect solicitou à ECT a
suspensão da medida e convocou os trabalhadores a iniciarem um
processo de mobilização em defesa do cargo. “Uma decisão tomada sem nenhuma
discussão com os trabalhadores e seus representantes”, afirma a entidade em
documento assinado pela secretaria-geral.
Para Marinho, a intenção do presidente, que é político de
carreira, filiado ao DEM, é a “terceirização de todos os segmentos de operação
de triagem e transbordo. Para nós, isso já é efeito da reforma trabalhista que
vem com o processo de avanço da terceirização e enxugamento da máquina para
justificar, futuramente, uma privatização ampla”.
O ministro Kassab, cuja pasta está acima dos Correios, não
descarta processos privatistas localizados, mas afirma que não está em
discussão no momento a venda da ECT. Para ele, algumas funções executadas pela
empresa vão desaparecer “seja com privatização, parceria ou extinção. É natural
que, com o passar do tempo, foram mudando o seu objetivo (os Correios). Há
alguns séculos, entregavam cartas, hoje ainda entregam muitas cartas, ainda é a
principal fonte de receita, mas cada vez mais temos outras atividades
importantes, como por exemplo, a logística”, disse.
FONTE:http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2018/01/trabalhadores-dos-correios-reunem-com-presidente-contra-desmonte