EMPRESA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS ESTÁ NA MIRA DAS PRIVATIZAÇÕES DO GOVERNO BOLSONARO. FOTO: ISTOCK |
Menos de uma semana antes
do anúncio oficial do leilão dos Correios no Brasil, a Justiça argentina
decretou a falência da empresa privada que por alguns poucos anos administrou
os os serviços postais do país.
O
caso da empresa que operava o serviço postal argentino
Quase vinte anos após a
abertura do processo de recuperação, em 2001, a Justiça argentina decretou a
falência do Correo Argentino SA. O
serviço postal pertencia à Socma, empresa da família do ex-presidente Maurício
Macri.
Em 1997, como parte do
plano de privatizações, a exploração da rede postal da Argentina foi entregue
pelo governo de Carlos Menem à família Macri em troca do pagamento de royalties
semestrais ao Estado. A Argentina
vivia na época uma forte crise econômica, e o Estado impunha medidas de
austeridade, dentre elas, o limite para transações bancárias diárias para
evitar que o sistema financeiro entrasse em colapso.
Um levantamento de 2001
indicou que a empresa concessionária, a Socma, havia pago apenas o que estava
previsto no primeiro ano da concessão. Naquele mesmo ano, o Correo
Argentino entrou em recuperação judicial devido à reiterada falta desse
pagamento. As sucessivas ofertas de pagamento da dívida realizadas pelo grupo
de Macri foram rejeitadas por serem consideradas insuficientes.
Em 2003, o governo de
Néstor Kirchner não renovou a concessão de exploração da rede postal com a
empresa de Macri e reestatizou o serviço.
Macri acusa o atual governo,
de seu opositor Alberto Fernández, de promover uma “vingança” e “perseguição
política” com o único propósito de avançar sobre ele e seus filhos. “A justiça
é manipulada a ponto de ter rejeitado a última tentativa que o Grupo Socma
interpôs em tribunal, oferecendo-se para pagar 100% da dívida devida a seus
credores privados”.
A empresa postal havia
proposto pagar um bilhão de pesos argentinos (54,2 milhões de reais, pelo
câmbio oficial atual) por uma dívida que, segundo cálculos do Ministério
Público Fiscal, hoje supera os cinco bilhões de pesos.
Durante o processo de
falência, que pode ser comparado com o processo de recuperação judicial aqui no
Brasil, a justiça argentina entendeu haver dúvidas razoáveis sobre a capacidade
de pagamento para cumprir a proposta que a empresa havia apresentado: devolver
100% do que devia a seus credores.
“A conduta demonstrada pelo
devedor [o Correo Argentino SA] ao longo do demorado processo de falência não
sustenta – do ponto de vista do credor – a necessária confiança no fiel
cumprimento do que foi prometido”, explicou a juíza Cirulli, responsável pelo
processo, em sua decisão.
Ela acrescentou ainda que a
empresa não tem atividade comercial e está em dilapidada, sem poder arcar
minimamente com suas já reduzidas despesas ordinárias – que são satisfeitas por
doações corporativas – e com “uma falência e pós-falência de excessivas
responsabilidades”. A magistrada também ordenou a proibição de saída dos
diretores da empresa do país.
Para a família Macri, a
falência do Correo Argentino é um duro revés que procuraram evitar até o
fim. Embora tenham tentado recorrer do processo, argumentando haveruma
perseguição com motivações políticas, a falência da empresa foi decretada,
devendo ser iniciada a liquidação dos bens para o pagamento das dívidas da
empresa.
Os
Correios brasileiros
Em 2020, com o aumento das
compras pela internet, reflexo da pandemia de covid-19, os Correios registraram
lucro líquido de 1,53 bilhão de reais em 2020. Esse número foi ainda
maior do que o registrado em 2019, de cerca de 102 milhões. O resultado de 2020
consolidou uma série de balanços positivos para os correios. Foram 4 anos
seguidos de lucro.
Esses resultados foram o
suficiente para findar as dívidas contraídas pela estatal nos anos anteriores a
2017. O prejuízo, que antes atingia a casa dos 2,3 bilhões, foi reduzido para
R$ 859,2 milhões em 2020. Atualmente, o capital social dos Correios é de R$ 3,4
bilhões.
Em abril, a Câmara dos
Deputados aprovou com urgência do PL 591/2021, que possibilita a privatização dos
Correios. O texto é originário do governo federal, tendo o presidente Jair Bolsonaro
levado o projeto pessoalmente ao Legislativo no fim de fevereiro deste
ano.
dos Correios. O texto é
originário do governo federal, tendo o presidente Jair Bolsonaro levado o
projeto pessoalmente ao Legislativo no fim de fevereiro deste ano.
Na proposta aprovada, no
caso de venda ou concessão, a União manteria para si uma parte dos serviços,
chamada na proposta de “serviço postal universal”, que incluem a entrega de
encomendas simples, cartas e telegramas.
Na terça 6, a Procuradoria-Geral
da República enviou um parecer ao Supremo Tribunal Federal se manifestando
contra a privatização dos Correios. A entidade tenta barrar a venda da empresa
estatal por ser de competência exclusiva da União o serviço postal.
FONTE:https://www.cartacapital.com.br/economia/falencia-de-empresa-postal-argentina-acende-alerta-sobre-a-privatizacao-dos-correios/