Para Celso Funcia Lemme, professor de sustentabilidade corporativa do Instituto Coppead/UFRJ, a combinação da capilaridade e do conhecimento dos Correios com as métricas de planejamento e desempenho da gestão privada é capaz de recolocar a companhia nos trilhos. “Mas enquanto a empresa insistir no modelo de monopólio e ficar restrita na discussão interminável e ideológica sobre privatizações e concessões, não chegará a lugar nenhum.” Professor de administração pública da Universidade de Brasília (UNB), José Matias Pereira também enxerga benefícios na gestão compartilhada. “Isso retira a influência política de dentro da empresa e permite uma melhoria sensível nos serviços.”
Na avaliação dos especialistas, a área de logística é o segmento que abre mais oportunidades para associações entre os Correios e empresas como FedEx, DHL e UPS, todas elas com operações no mercado brasileiro. Entre outros exemplos de ganhos e sinergias, os acordos podem aprimorar e tornar mais eficientes determinadas ofertas dos Correios, como o serviço de encomendas expressas Sedex. Nesse caso, a estatal seguiria responsável pela entrega de pacotes, documentos e mercadorias, enquanto a gestão de outras etapas essenciais do processo, como o armazenamento, a separação e a preparação dos pacotes, ficariam sob a gestão desses parceiros. Mas será que haverá interesse por parte deles? Até agora, ninguém se manifestou.
Guilherme Campos identifica outros pontos críticos, como o inchaço na equipe administrativa, e, em um contraponto, a lacuna na área operacional. Para equilibrar os quadros, uma das medidas em estudo é um novo Plano de Demissão Incentivada. Um dos principais problemas, no entanto, é a necessidade de a empresa se adaptar à migração do papel para o digital. “Existem iniciativas nessa direção”, diz. “Mas o que eu percebo é uma presença muito acentuada da cultura do gerúndio. ‘Estamos fazendo, estamos estudando’. Mas nada é realmente concluído.”
“O futuro do paciente é brilhante, mas ele precisa sair da UTI”
O presidente dos Correios, Guilherme Campos, fala à DINHEIRO sobre as perspectivas da empresa:
Qual é o seu diagnóstico da crise atual dos Correios?
O monopólio que sustentava a operação no passado, hoje não consegue mais financiá-la. E, além da deterioração do caixa, vamos enfrentar outro desafio já em agosto, que é a possibilidade de greve. A paralisação pode trazer um prejuízo de mais de R$ 100 milhões e um impacto intangível na perda de credibilidade da empresa, que já está abalada. Há um descolamento dos sindicatos quanto à gravidade da situação. Esse é o momento de discutir a sobrevivência dos Correios e não de acentuar essa crise.
Nesse contexto, quais são as opções para ganhar fôlego no curto prazo?
Estamos trabalhando frentes como a busca de empréstimos, a venda de ativos e o pedido para que o Tesouro devolva R$ 3,8 bilhões que retirou a mais de dividendos de 2010 a 2014. E estou cortando o que é possível de patrocínios. Reduzimos de R$ 300 milhões em 2015 para R$ 180 milhões nesse ano. Em 2017, quero chegar à metade dessa cifra.
O sr. acredita que há chances de recuperação para os Correios?
Existem muitas possibilidades pela frente. O futuro do paciente é brilhante. Mas antes de qualquer coisa, ele precisa sair da UTI.