segunda-feira, 25 de julho de 2016

O FIM DO VOO SOLITÁRIO DOS CORREIOS

Responsável pelo monopólio de serviços postais no País desde os tempos do Brasil Colônia, os Correios não têm sido portadores de boas notícias nos últimos anos. E, em meio a uma das piores crises de sua história, a empresa entrou definitivamente no radar do governo. Na terça-feira, 19, o presidente Michel Temer encomendou à sua equipe um estudo para a implantação da gestão compartilhada de algumas áreas dos Correios com a iniciativa privada. A medida abriria espaço para parcerias com empresas que já demonstraram interesse em uma associação com os Correios, como a Fedex, a UPS e a DHL. Ao mesmo tempo, a flexibilização do modelo ajudaria a reverter a queda livre da estatal, que registrou um prejuízo de R$ 2,1 bilhões em 2015 e vive sob o risco iminente de não ter caixa para pagar funcionários e fornecedores. “Eu sou o bombeiro dos Correios”, diz Guilherme Campos, que assumiu o comando da companhia no início de junho, sob a indicação de Temer. À DINHEIRO (leia ao lado) ele afirma que ainda não recebeu nenhuma sinalização do presidente quanto ao plano em questão. Mas acredita que essa seria uma das alternativas mais viáveis para recuperar a empresa, especialmente se comparada à opção de privatizar toda a operação. “Não tenho segurança de que privatizar seria o melhor caminho”, afirma. “É provável que as empresas privilegiassem apenas as grandes praças, o que prejudicaria o serviço nas cidades menores e mais distantes.”

Para Celso Funcia Lemme, professor de sustentabilidade corporativa do Instituto Coppead/UFRJ, a combinação da capilaridade e do conhecimento dos Correios com as métricas de planejamento e desempenho da gestão privada é capaz de recolocar a companhia nos trilhos. “Mas enquanto a empresa insistir no modelo de monopólio e ficar restrita na discussão interminável e ideológica sobre privatizações e concessões, não chegará a lugar nenhum.” Professor de administração pública da Universidade de Brasília (UNB), José Matias Pereira também enxerga benefícios na gestão compartilhada. “Isso retira a influência política de dentro da empresa e permite uma melhoria sensível nos serviços.”

Na avaliação dos especialistas, a área de logística é o segmento que abre mais oportunidades para associações entre os Correios e empresas como FedEx, DHL e UPS, todas elas com operações no mercado brasileiro. Entre outros exemplos de ganhos e sinergias, os acordos podem aprimorar e tornar mais eficientes determinadas ofertas dos Correios, como o serviço de encomendas expressas Sedex. Nesse caso, a estatal seguiria responsável pela entrega de pacotes, documentos e mercadorias, enquanto a gestão de outras etapas essenciais do processo, como o armazenamento, a separação e a preparação dos pacotes, ficariam sob a gestão desses parceiros. Mas será que haverá interesse por parte deles? Até agora, ninguém se manifestou.

Guilherme Campos identifica outros pontos críticos, como o inchaço na equipe administrativa, e, em um contraponto, a lacuna na área operacional. Para equilibrar os quadros, uma das medidas em estudo é um novo Plano de Demissão Incentivada. Um dos principais problemas, no entanto, é a necessidade de a empresa se adaptar à migração do papel para o digital. “Existem iniciativas nessa direção”, diz. “Mas o que eu percebo é uma presença muito acentuada da cultura do gerúndio. ‘Estamos fazendo, estamos estudando’. Mas nada é realmente concluído.”

“O futuro do paciente é brilhante, mas ele precisa sair da UTI”

O presidente dos Correios, Guilherme Campos, fala à DINHEIRO sobre as perspectivas da empresa:


Qual é o seu diagnóstico da crise atual dos Correios?
O monopólio que sustentava a operação no passado, hoje não consegue mais financiá-la. E, além da deterioração do caixa, vamos enfrentar outro desafio já em agosto, que é a possibilidade de greve. A paralisação pode trazer um prejuízo de mais de R$ 100 milhões e um impacto intangível na perda de credibilidade da empresa, que já está abalada. Há um descolamento dos sindicatos quanto à gravidade da situação. Esse é o momento de discutir a sobrevivência dos Correios e não de acentuar essa crise.

Nesse contexto, quais são as opções para ganhar fôlego no curto prazo?
Estamos trabalhando frentes como a busca de empréstimos, a venda de ativos e o pedido para que o Tesouro devolva R$ 3,8 bilhões que retirou a mais de dividendos de 2010 a 2014. E estou cortando o que é possível de patrocínios. Reduzimos de R$ 300 milhões em 2015 para R$ 180 milhões nesse ano. Em 2017, quero chegar à metade dessa cifra.

O sr. acredita que há chances de recuperação para os Correios?
Existem muitas possibilidades pela frente. O futuro do paciente é brilhante. Mas antes de qualquer coisa, ele precisa sair da UTI.

FONTE: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20160722/fim-voo-solitario-dos-correios/395802