(Elza Fiuza/Agência Brasil)
São Paulo – A
recente greve dos funcionários dos Correios,
que terminou
ontem na maioria dos Estados, é mais um capítulo da crise instalada
há anos na estatal. Reclamações de usuários insatisfeitos brotam aos
montes na internet, com relatos de atrasos e extravios de entregas.
Junto
a isso vem a briga
com um de seus principais clientes, o Mercado Livre, que
recentemente ganhou
na Justiça uma liminar contra o aumento do preço do frete.
E,
é claro, há ainda as perdas bilionárias: há cinco anos que empresa opera no
vermelho; só em 2017 o prejuízo foi de 2 bilhões de reais.
Um
cenário tão sombrio obviamente não surge da noite para o dia. E o fato é que os
Correios têm tomado decisões ruins há muito tempo. Um relatório
da CGU (Controladoria Geral da União) publicado no final do ano
passado apontava que os Correios corriam o risco de se tornarem uma empresa
dependente do Estado, caso não fizesse mudanças drásticas em sua administração.
O site
EXAME conversou com analistas para entender quais foram os
principais erros da companhia que a levaram ladeira abaixo – e quais os
caminhos de saída ainda restam para a empresa. Veja a seguir:
1-
Aparelhamento político
O
uso dos cargos de direção dos Correios como moeda de troca política é apontado
como o principal nó causador de estragos na companhia ao longo dos anos. A
indicação política de diretores, e até de cargos de escalões mais baixos, tem
colocado a estatal nas mãos de pessoas com pouca experiência em gestão, avaliam
os analistas.
Com
mais de 100 mil funcionários e 6 mil agências espalhadas pelo país, a estatal
tem uma estrutura complexa e precisa ser administrada por quem entenda sua
operação.
“A
politização cresceu na empresa. Hoje os políticos indicam, se brincar, até
chefe da agencia. Isso comprometeu a qualidade da gestão. Essas pessoas adotam
medidas que só pioram a situação, querem economizar cortando onde não pode
cortar”, afirma Marcos César Alves Silva, representante dos funcionários no
Conselho de Administração da empresa.
2
– Retirada de dividendos
Nos
últimos anos, o governo federal retirou nada menos que 6 bilhões de reais do
caixa dos Correios, segundo o presidente da estatal Guilherme Campos, o que
comprometeu a saúde financeira da empresa.
O
estatuto dos Correios determina um percentual mínimo de 25% do lucro líquido
ajustado para pagamento de dividendos à União.
Porém,
uma auditoria feita pela CGU (Controladoria Geral da União) mostrou que as
retiradas nos últimos anos têm ficado bem acima desse montante, com “a
destinação de dividendos na ordem de 50% do lucro, por determinação da União,
desde o exercício de 2006”, diz o relatório.
3
– Tarifas congeladas e mais custos
Não
bastassem as gordas retiradas, o governo federal também definiu o congelamento
das tarifas no período entre 2012 e 2014, o que levou a uma perda de receita da
ordem de 1,2 bilhão de reais na época, afirma Silva.
Somado
a isso, em 2014 também entrou em vigor uma regra que obriga os Correios a considerarem
em seu balanço os benefícios pós-emprego. Esses benefícios são destinados aos
empregados aposentados e são compostos, basicamente, por serviços médicos para
eles e seus dependentes e previdência complementar. Os custos do pós-emprego
são altos e comeram os lucros.
4
– Cortes equivocados
As
medidas relatadas acima deixaram a estatal com o caixa super apertado e uma
solução foi reduzir a empresa. Só em 2017, os Correios fizeram três planos de
demissão voluntária, com a meta de fechar 8.200 vagas. Outra estratégia foi
fechar agências. No ano passado a empresa anunciou o fechamento de 250 unidades.
Porém,
isso se refletiu numa queda na qualidade do serviço, sentida pelo usuário que
demora mais tempo para receber a correspondência ou precisa ir mais longe para
encontrar uma agêncial postal.
“O
foco era diminuir custos da folha salarial, mas fizeram isso sem correlacionar
com a qualidade do serviço prestado”, avalia Tadeu Gomes Teixeira, professor de
administração na Universidade Federal do Maranhão e autor de um livro sobre os
Correios.
“A
empresa precisa redimensionar o tamanho dos distritos de distribuição e
contratar mais carteiros, pois a população que não é atendida que percebe o
quanto o serviço está ruim, além das atividades empresariais que precisam do
serviço postal”, completa.
5
– Distância do e-commerce
Paradoxalmente,
a crise dos Correios acontece num momento em que o mercado de encomendas cresce
em todo o mundo, devido à expansão do e-commerce. Segundo a ABComm (Associação
Brasileira de Comércio Eletrônico), esse mercado tem crescido a uma média
20% ao ano, alta que não tem sido acompanhada pela estatal.
“Eles
têm perdido oportunidades, as lojas virtuais estão buscando transportadoras
privadas, e a participação dos Correios nas entregas tem diminuído”, afirma
Mauricio Salvador, presidente da entidade.
Salvador
cita experiências internacionais que mostram caminhos possíveis aos Correios,
como os serviços postais da França e da Alemanha. Segundo ele, um ponto crucial
é o investimento em tecnologia.
“Há
uma má gestão em relação ao uso do capital. Eles poderiam investir em
integração de sistemas e automação dos centros de distribuição. A tendência lá
fora é essa. A DHL é totalmente automatizada, isso reduz preço e aumenta o
nível de qualidade e rapidez das entregas”, afirma.
Qual
a saída?
Com
tantos problemas, o governo federal já levantou a possibilidade de privatizar a
ECT, ou ainda abrir o capital da empresa. Salvador, da ABComm, é uma das vozes
favoráveis à privatização. “O governo não tem competência para administrar”,
avalia.
Porém,
há o temor de que, privatizada, a empresa deixe de atender lugares distantes,
pouco lucrativos para a operação. Para Tadeu Teixeira, a privatização não
deve ser a primeira opção, mas a abertura do capital da empresa. “No contexto
da União Europeia, as privatizações conduziram a um rápido processo de formação
de oligopólios. Além disso, o atendimento a áreas não rentáveis ficaria em
risco”, avalia.
Já
o conselheiro Marcos César Alves Silva, acredita que a discussão sobre a
privatização surge de forma equivocada. “A solução é fazer a gestão
profissional da empresa. Não tenho dúvidas de que com isso seríamos uma empresa
lucrativa.”
FONTE:https://exame.abril.com.br/negocios/os-5-erros-que-levaram-os-correios-a-penuria/
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