quinta-feira, 20 de agosto de 2020

O MOMENTO JURÍDICO DA CAMPANHA SALARIAL DOS CORREIOS


Blog Postal Verde apresenta uma visão profunda e esclarecedora da situação atual dos Correios, mergulhado em um imbróglio jurídico com seus trabalhadores. Este trabalho jornalístico não busca trazer todas as respostas, mas ampliar a visão e a compreensão acerca deste cenário. Nesta entrevista, conversamos com o advogado Marcos de Moura Lourenço que é funcionário dos Correios e militante sindical desde 1994.

 

Marcos fique à vontade para falar um pouco sobre você.

 

Sou Marcos de Moura Lourenço trabalho nos Correios há 29 anos no cargo de Operador de Triagem e Transbordo, Representante Sindical do CTC Cidade Nova, tenho formação acadêmica em Direito, sou advogado desde 2009 com pós-graduação em Advocacia Cível e Trabalhista, com especialização em Didática do Ensino Superior Jurídica. Minha militância política vem desde os movimentos estudantis passando pelo movimento de comunidade na Associação dos Moradores e Amigos da Barreira em Santa

Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro onde fui Diretor e Vice-Presidente.

 

Como você enxerga o cenário atípico da atual negociação nos aspectos jurídicos e pandêmicos?

 

O atual cenário político e social agravado pelo quadro de Pandemia através do COVID-19 que assola o país são elementos que estão sendo utilizados de forma oportunista por parte das direções das empresas para elaboração de medidas que venham sacrificar e retirar direitos da classe trabalhadora. Baseados numa Sentença Normativa decidida no TST – Tribunal Superior do Trabalho no ano passado em que os trabalhadores dos Correios teriam os seus direitos estendidos até 31 de julho de 2021, isso fez com que a

categoria ficasse de certo modo contemplada, devido ao caos que se encontra o país. Através de uma decisão monocrática, inédita, exarada pela presidência do STF – Supremo Tribunal Federal, a Sentença Normativa teve o seu encerramento abrupto no dia 31 de julho de 2020, obrigando a categoria a uma nova negociação enquanto aguarda o desfecho do julgamento da decisão do STF previsto acontecer entre os dias 14 a 21 de agosto de 2020.

 

A direção da empresa diz que não está retirando benefícios. Qual o paralelo pode ser feito entre a Sentença Normativa que se encerrou e a CLT?

 

A empresa se aproveitando da pandemia quer retirar direitos históricos conquistados em muitas décadas de lutas coletivas rebaixando todos eles ao patamar da CLT. Cabe ressaltar que o Correios é a empresa em que se paga os menores salários praticados dentre todas as estatais e esses benefícios e direitos concedidos em um nível um pouco acima da CLT é uma forma de contrabalancear os salários tão baixos praticados pelos Correios

ao longo dos anos. Ao ajuizar a suspensão da liminar no STF, os Correios, portanto, já se utiliza desse instrumento reduzindo o valor do Vale Alimentação, da Cesta Básica, aumenta a mensalidade na co-participação do plano de saúde para o patamar de 50% de custeio, ou seja, na pratica a empresa busca retirar 70 das 79 clausulas que estão inseridas na Sentença Normativa. Agindo dessa forma, a empresa faz com que os trabalhadores dos Correios em plena pandemia fiquem na iminência de perder direitos históricos e, conseqüentemente faz com que a dignidade humana desses valorosos trabalhadores seja afetada consideravelmente e de forma negativa.

 

Qual a sua expectativa em relação ao julgamento da Liminar no STF que acontecerá entre os dias 14 e 21 de agosto?

 

Com relação ao julgamento do STF que teve início no 14/08 que poderá se estender até o dia 21/08 espero que o parecer do procurador-geral da República, Augusto Aras venha prevalecer, pois diz que não é de competência do STF fazer tal julgamento por não ser matéria de cunho constitucional afirmando assim, a prevalência do teor de uma Sentença Normativa julgada pelo TST. Neste sentido é de vital importância a pressão da classe trabalhadora dos Correios, na greve que terá início no dia 17 às

22h00minh, para que a Suprema Corte brasileira tenha a plena ciência dos malefícios causados por essa suspensão de liminar que além de aumentar consideravelmente o valor da mensalidade e na co-participação do plano de saúde, promoverá em plena pandemia, perdas de direitos conquistados a mais de 30 anos.

 

O trabalhador pode acreditar no que diz a Direção da empresa, reverberado na mídia tradicional, quanto à falta de recursos financeiros para custeio de seus funcionários?

 

É obvio que a empresa vem apresentando lucro em sua balança comercial. Em 2019 a empresa teve um lucro de 102 milhões. Este ano, em plena pandemia ela está registrando um aumento de 25% nas postagens de encomenda (digo: PAC, SEDEX e ENCOMENDAS INTERNACIONAIS) que corresponde a um incremento muito grande no faturamento da empresa no setor do e-commerce. Esse aumento considerável no setor de encomendas promove um maior faturamento da empresa. Portanto é pura falácia quando ela coloca na mídia que está tendo prejuízo.

 

Qual o objetivo da empresa ao fazer com que a mídia incorpore a idéia de que está tendo prejuízo?

 

Fortalecer o argumento da privatização. A contradição se dá em

verificar que o salário de um Carteiro gira em torno de R$ 1.750,00

enquanto o General Presidente, que não entende nada de Correios, ganha R$ 47.000,00 e seus apadrinhados vices presidentes R$ 42.000,00, isso só nos Correios. E esse General ainda coloca como apadrinhados no POSTAL SAUDE, Assessores Especiais, que irão ganhar uma bagatela de R$ 27,000,00 de salário mensal custando aos cofres dos Correios R$ 2,4 milhões por ano. Vale lembrar que a POSTAL SAÚDE só passou a pagar estes valores, por ordem do General. Portanto é fácil concluir: se a empresa de fato estivesse tendo prejuízo financeiro, esses altos gestores deveriam ter cortado em pelo menos 70% de seus proventos salariais mensais.

 

A greve deflagrada para o dia 17de agosto pode desencadear um novo processo no TST? Quais as conseqüências neste caso?

 

Caso haja por parte de algum ministro (a) o pedido de vistas no julgamento do STF ou julgue no mérito a liminar a favor da ECT, torna-se mais que necessário que o jurídico da FENTECT entre com o pedido de PMPP – Procedimento de Mediação Pré-processual junto ao TST para que se busque o restabelecimento da Sentença Normativa julgada pelo próprio TST para que não fiquemos sem Acordo Coletivo ou Sentença Normativa.

 

É mais que necessário diante do quadro apresentado que a classe

trabalhadora, a sociedade de um modo geral e, especificamente, a

categoria ecetista tenha em mente que lutar passa a ser a única alternativa para que não aconteça o pior para todos (as) que é a privatização dos Correios. Portanto do Oiapoque ao Chuí que façamos uma grandiosa greve a partir do dia 17 para que possamos minimamente garantir nossos direitos e benefícios.

 

É necessária uma união de todos os setores da empresa dos Carteiros, Atendentes, OTTs, Motoristas, a área administrativa. Que todos nós estejamos imbuídos no sentido de defender tudo aquilo que nos é de direito. Fica aqui como minha mensagem final que todos os trabalhadores dos Correios do Brasil possam fazer uma grandiosa greve a partir do dia 17 de agosto.


Joel Arcanjo Pinto
Jornalista colaborador do blog Postal Verde.





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