O presidente dos Correios,
Guilherme Campos, afirmou hoje (11) em audiência pública na Câmara dos
Deputados que a situação financeira da empresa ainda é muito delicada.
O
presidente afirmou que, na última década, a empresa só não registrou deficit no
resultado operacional em cinco anos e adiantou que o ano de 2016 deve registrar
novo prejuízo.
“A dramaticidade dos números dos Correios é
muito forte, nós tivemos em 2015 um prejuízo de R$ 2,1 bilhões. O ano de 2016
não é diferente disso, é um ano onde se coloca mais um prejuízo, o número não
está fechado, mas também é da ordem de R$ 2 bilhões” disse.
Os
Correios tem cerca de 11 mil agências (entre próprias, comunitárias e
franqueadas) instaladas em 5.570 municípios do país. Há 354 anos, a empresa
detém o monopólio dos serviços postais do país. Atualmente, os Correios tem 117
mil funcionários, sendo que mais de 60 mil são carteiros.
Para
Campos, a crise nos Correios é decorrente das transformações tecnológicas que
alteraram a forma de comunicação e afetaram as empresas do setor em todo o
mundo. Ele avaliou que o modelo de monopólio é insustentável e precisa ser
modernizado.
Campos
voltou a apontar a retirada de mais de R$ 6 bilhões do caixa da empresa para
antecipação de dividendos ao Tesouro, entre 2007 e 2013, como uma das causas
para o agravamento da dificuldade financeira. E citou ainda a recente greve
nacional promovida pelos funcionários entre os dias 26 de abril e 9 de maio.
Segundo Campos, a paralisação resultou em prejuízos de pelo menos R$ 6 milhões
por dia.
O
presidente da estatal elogiou a decisão dos trabalhadores de encerrar a greve
nacional e disse que várias ações para minimizar os prejuízos já estão sendo
tomadas.
Empregados
No
entanto, para o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores dos
Correios, José Rivaldo da Silva, as medidas tomadas pela direção da empresa não
são suficientes e seguem na direção da privatização da empresa. O representante
dos empregados disse ainda que a decisão de voltar ao trabalho não é um recuo e
que os sindicatos querem continuar promovendo ações para discutir formas de
retomar o crescimento da empresa.
“Iniciamos
o movimento de greve dando um recado de que não vamos pagar essa conta. E
paramos a greve porque entendemos que era necessário parar naquele momento, mas
não recuamos não. Não queremos discutir retirada de direitos, queremos discutir
a retomada do crescimento, a criação de novos serviços e a recuperação da
empresa”, disse Rivaldo.
O
sindicalista criticou as indicações políticas para cargos de gestão da empresa
e a decisão da presidência de suspender as férias dos funcionários e de
cancelar serviços como o e-sedex. Rivaldo ainda classificou de assédio o
anúncio do programa de demissão voluntária – que deve reduzir o número de
funcionários para 113 mil -, e a redução de benefícios como a possibilidade de
perda do custeio do plano de saúde pela empresa.
Dieese
O
supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), Max Leno, também contestou o argumento de deficit
apresentado por Campos. O especialista apresentou dados que mostram que entre
2011 e 2016, a despesa e receita total dos Correios cresceram 53,5% e 32,8%,
respectivamente.
Leno
explicou que a retração dos Correios começou em 2015 com a forte crise que
afetou a economia brasileira e a capacidade de investimentos das grandes
empresas do país. O economista afirmou ainda que medidas para redução de gastos
tiveram maior impacto no deficit registrado em 2015 e que a despesa com pessoal
está dentro da média mundial apresentada pelo segmento postal.
A
crise da empresa tem sido tema de debate em diferentes comissões na Câmara com
a presença de representantes de diferentes sindicatos de trabalhadores,
especialistas e integrantes da empresa. O próximo debate deve ocorrer na
Comissão de Direitos Humanos.
FONTE: http://exame.abril.com.br/negocios/presidente-dos-correios-diz-que-monopolio-e-insustentavel/