Juarez foi demitido por Bolsonaro em café da manhã com jornalistas |
Virtualmente demitido pelo presidente Jair Bolsonaro na
sexta-feira passada, num café da manhã com jornalistas, o presidente dos
Correios, general da reserva Juarez Aparecido de Paula Cunha, foi trabalhar
normalmente nesta segunda-feira. Ao invés de limpar as gavetas, ele avisou para
um auditório lotado que não sai até a formalização da demissão: “Só vou sair
daqui a hora que chegar oficialmente. Aí eu saio, senão, não saio, não”.
Terminou a palestra aplaudido e vestindo boné de carteiro.
O evento, fechado à imprensa,
mas ao qual o Estado teve acesso, foi justamente
sobre o tema que causou a ira do presidente e sua decisão de demitir o general:
a privatização da estatal. Aos jornalistas, Bolsonaro havia dito que tinha
anunciado a venda da empresa e Cunha tinha falado o oposto no Congresso, agindo
como “sindicalista”.
Na véspera do anúncio da demissão, o general havia sido presenteado
pela Superintendência dos Correios do Amazonas com um selo personalizado, que
ostenta sua fotografia. Na imagem, Cunha aparece junto a um prédio da estatal e
do Teatro Amazonas, principal cartão-postal da capital Manaus. Foram impressos
12 desses selos. Os Correios dizem que outros funcionários e personalidades já
foram homenageados da mesma forma. Exemplo: o primeiro-ministro de Israel,
Binyamin Netanyahu. Não consta que Bolsonaro tenha o seu.
O evento em que o general disse
que só sai depois da formalização da demissão foi na tarde dessa segunda. Horas
depois, à noite, o porta-voz da Presidência, o também general Otávio do Rêgo
Barros, afirmou que o presidente ainda não decidiu quando vai efetivar a demissão nem
nomear o substituto do general.
Na apresentação da segunda, o
general insistiu no tema privatização. Disse que a decisão sobre a venda do
controle da empresa é uma promessa de campanha de Bolsonaro e “ele tem que
cumprir”, mas acrescentou que esse será um processo muito longo, que pode durar
anos.
O general afirmou que havia se
comprometido a lutar contra a privatização, mas “até um certo limite”. “No
momento em que há uma decisão, esse assunto é de responsabilidade do governo.
Já que há uma decisão para que esse processo aconteça”, afirmou. "O melhor
que os funcionários podem fazer é receber bem os responsáveis pelos estudos da
privatização, de forma a fazer um 'controle de danos' e procurar contribuir,
acompanhar e defender nossos interesses", argumentou.
Cunha foi ovacionado ao levantar
o moral dos servidores: “Os Correios não vão acabar, ninguém vai acabar com a
empresa e mandar todos os funcionários embora. Vamos ficar serenos, encarar com
naturalidade, sem ninguém se estressar.” Ele disse que a equipe econômica está
preocupada com a preservação dos direitos dos funcionários e com o futuro da
própria empresa. “Não querem que, lá no futuro, a coisa venha a se deteriorar
novamente”, acrescentou.
Segundo o general, o modelo a
ser adotado na privatização ainda não foi definido. “Uma parte da empresa
poderá fazer abertura de capital. Nada disso está definido: como fazer, o tipo
de privatização, se é que vai acontecer. Vejam, existem muitos passos aí pela
frente, muitos passos”, afirmou.
E novamente insistiu. “Sobre o
tempo que isso leva? Não sei, eu também não sei. É um caminho muito longo”,
reconheceu, ressaltando que “não é hora de se estressar e perder noites de
sono”. “Por isso não temos que nos preocupar com grande antecedência. Não se
desgastem com isso”, disse.
O general encerrou recomendando
aos empregados que continuem buscando bons resultados para tentar influenciar
na decisão do governo. “Temos que mostrar que somos uma empresa sólida, que não
precisamos do orçamento do governo, tudo isso será considerado quando do
processo de privatização”, avisou. “Temos que trabalhar de perto e contribuir
para a defesa dos nossos empregados, buscando influenciar nesse aspecto”,
completou.